De
acordo com Chapman (1992), citado por Vasconcelos, Tundisi e Tundisi (2009), a
qualidade da água pode ser definida como “o conjunto de concentrações,
especiações[1]
e partições físicas de substâncias orgânicas e inorgânicas e a composição,
diversidade e estado da biota encontrada em um determinado ecossistema
aquático. Esta qualidade apresenta variações temporais e aquáticas, devido a
fatores externos e internos ao ecossistema aquático”.
Poluição
do ecossistema aquático significa a introdução pelo homem, direta ou
indiretamente, de substâncias ou energia que resultam em efeitos deletérios a:
recursos vivos; impactos na saúde humana; comprometimentos de atividades nos sistemas
aquáticos, por exemplo, pesca; comprometimento da qualidade da água e de seu
uso em atividades agrícolas, econômicas e industriais e redução de amenidades.
A
qualidade da água é, portanto, utilizada como indicador das condições do
sistema aquático e para avaliar o estado de poluição, degradação ou conservação
de rios, lagos, represas, estuários, águas costeiras e áreas alagadas. Pode-se
realizar essa avaliação utilizando-se monitoramento, que é a coleta de
informações regulares e a formação de um banco de dados fundamental para
futuras ações.
Os
limites dos usos da água, devido à deterioração da sua qualidade, são apontados
no quadro a seguir.
Substâncias tóxicas
A
concentração de substâncias tóxicas nos ecossistemas terrestres e aquáticos tem
aumentado sensivelmente nas últimas décadas. Essas substâncias resultam de
atividades industriais e agrícolas e da produção de toxinas pelas
cianobactérias. Todo o conjunto de elementos e substâncias tóxicas dissolvidas
na água, acumulados no sedimento e na cadeia alimentar por meio do processo de
bioacumulação, tem efeitos de toxidade crônica e aguda sobre os organismos
aquáticos e, em último caso, sobre a espécie humana.
O
conjunto de substâncias tóxicas e elementos acumulados em águas naturais é
muito grande, dada a variedade e a diversidade das atividades industriais e
agrícolas. Estas substâncias tóxicas classificam-se em:
-
Contaminantes orgânicos:
óleos minerais, produtos de petróleo, fenóis, pesticidas, compostos bifenila,
policlorados e toxinas produzidas por cianobactérias, cuja determinação na água
requer equipamentos especializados e equipes altamente treinadas.
-
Metais: alguns
metais são importantes para manter os processos fisiológicos dos tecidos vivos
e dos organismos. Esses metais regulam os processos bioquímicos, por exemplo,
manganês, zinco e cobre, em concentrações muito baixas. Todavia, esses mesmos
metais, quando em concentrações elevadas, podem ser tóxicos aos organismos e ao
homem. Um dos elementos de grande importância epidemiológica e toxicológica é o
arsênio, cuja contaminação é um problema global, causando inúmeros distúrbios
de saúde pública, interferindo em doenças como diabetes, câncer e gerando
desordens dos sistemas imunológico, nervoso e reprodutivo. Outro metal de grande
importância é o mercúrio, que tem um longo tempo de residência na biota
aquática e causa severas contaminações em seres humanos.
Água e saúde humana
Apesar
de ser uma substância vital para a saúde humana, a água de baixa qualidade
debilita as pessoas, produz doenças por vários mecanismos e aumenta a
mortalidade. O Conselho Nacional Americano de Sanidade Ambiental e Água Potável
publicou uma lista de 100 organismos patogênicos associados com a água e cerca
de 100 efeitos adversos.
As
doenças de veiculação hídrica podem ter seus efeitos exacerbados com as
alterações climáticas e, a longo prazo, com as mudanças globais.
Padrões de Qualidade da Água
a.
Potabilidade
Os
padrões de qualidade de água destinada ao abastecimento doméstico compreendem
critérios essenciais e complementares. Os primeiros, dizem respeito à proteção
contra a contaminação por organismos patogênicos e contra a poluição por
substâncias tóxicas ou venenosas.
Os
critérios complementares visam o controle da qualidade no que diz respeito ao
aperfeiçoamento da água em aspectos estéticos, organolépticos, econômicos etc.,
que embora desejáveis, não são essenciais à proteção da saúde pública (cor,
sabor, odor, turbidez, dureza, corrosividade etc.)
As águas geralmente são consideradas potáveis quando
podem ser consumidas pelo homem sem ocasionar prejuízos a sua saúde. Os órgãos
responsáveis apresentam padrões de potabilidade para o consumo humano que
variam em cada região, em função das peculiaridades locais. Entretanto, há uma
tendência mundial de padronização das normas existentes da Organização Mundial
da Saúde (OMS). Em
épocas passadas, os padrões de potabilidade da água eram apenas em função da
avaliação dos sentidos da visão, gustação e olfato.
A
evolução as técnicas de análises químicas, físico-químicas, biológicas e
radiológicas permitiu o aprimoramento dos padrões de potabilidade da água para
consumo humano.
Existem,
nas águas, constituintes químicos de natureza inorgânica e orgânica, sendo
estes últimos ainda pouco estudados em termos de avaliação e normas de
potabilidade.
b.
Qualidade Ambiental
Os
padrões de qualidade ambiental das águas visam fundamentalmente a proteção da
saúde pública e o controle de substâncias potencialmente prejudiciais à saúde
do homem, como microorganismos patogênicos, substâncias tóxicas ou venenosas e
elementos radioativos.
Os
exames de controle ambiental das águas são físicos, químicos, microbiológicos e
bacteriológicos. Os limites máximos admissíveis para os parâmetros físicos,
químicos, microbiológicos e bacteriológicos, em geral, são aperfeiçoados à
medida em que as pesquisas e técnicas analíticas permitam que sejam
estabelecidas formas mais precisas de controle ambiental.
A
legislação brasileira de controle ambiental da qualidade da água baseia-se em
usos da água e seus correspondentes de aceitação de poluição e/ou contaminação.
Estes limites foram estabelecidos, na sua maioria, em países de características
ambientais bem diferentes do nosso, o que pode levar a avaliações equívocas
para alguns elementos em certos casos. A Resolução nº 357/2005 do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) dispõe sobre a classificação dos corpos de
água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as
condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências.
Exploração racional e sustentável dos
aquíferos.
Os aquíferos se prestam a
diversas funções, quais sejam:
• Produção: consumo humano, industrial ou
irrigação.
• Ambiental: abordagem multidisciplinar da
hidrologia com enfoque nos sistemas ambientai
• Transporte: o aquífero é utilizado como pipeline para transportar água entre zonas de recarga artificial ou natural e áreas de extração excessiva.
• Transporte: o aquífero é utilizado como pipeline para transportar água entre zonas de recarga artificial ou natural e áreas de extração excessiva.
• Estratégica:
gerenciamento integrado das águas superficiais e subterrâneas de áreas
metropolitanas, inclusive mediante práticas de recarga artificial com
excedentes da capacidade das estações de tratamento.
. Filtro: utilização da capacidade filtrante e de depuração
biogeoquímica do maciço natural permeável.
• Energética: utilização da água subterrânea
aquecida pelo gradiente geotermal, como fonte de energia.
• Estocagem e regularização:
utilização do aquífero para estocar excedentes de água que ocorrem durante as
enchentes dos rios, ou do reúso de efluentes domésticos e/ou industriais
tratados.
Mais de 2
bilhões de pessoas dependem da água subterrânea para o seu abastecimento
(2004). Quer sejam as águas subterrâneas ou de superfície a serem exploradas
para abastecimento, elas são muito dependentes da localização dos aquíferos em
relação ao ponto de demanda.
Grande
parte da população urbana, com alta demanda de água, só será capaz de explorar
águas subterrâneas se o aquífero tiver propriedades favoráveis de transmissão e
armazenamento.
Em zonas
rurais pouco povoadas, fontes de abastecimento de água mais limitadas podem ser
obtidas em aquíferos pobres, tais como rochas intemperizadas do embasamento.
No Brasil,
as outorgas de águas superficiais superam as de água subterrânea em 12 vezes em
termos de vazão e em 25% em número de outorgas, considerando os dados de julho
de 2011.
Sustentabilidade é o processo de se obter de modo contínuo condições
de vida iguais ou superiores para um grupo de pessoas e seus sucessores em um
dado ecossistema. Portanto, a condição é não prejudicar gerações futuras.
A
sustentabilidade está diretamente associada aos processos que podem se manter e
melhorar ao longo do tempo. A insustentabilidade comanda processos que se
esgotam.
A água é um
fator limitante para o desenvolvimento sustentável. Um dos maiores desafios
para o desenvolvimento sustentável será minimizar os efeitos da escassez da
água e da poluição, bem como controlar os excessos, evitando inundações.
Para a produção
de 1 t grãos são consumidos cerca 1 milhão de litros de água. Para a produção
de 1 t de arroz são consumidos cerca 2 milhões de litros de água.
Uma das
razões da perda de vazão dos rios no Planalto Central é o desmatamento de áreas
do Cerrado e a perda da água acumulada no subsolo desse bioma. O desmatamento
já chegou, em todo o Cerrado, a 50% da área total. A compactação do solo
resultante dos processos agronômicos, assim como problemas do clima, levaram os
técnicos a estimar, há uma década, que o volume de água no subsolo – que antes
gerava o fluxo de 14% das águas brasileiras que correm para as três grandes bacias
(Amazônica, do São Francisco e do Paraná) e era suficiente para sete anos, mas
caíra para três anos. E o desmatamento prossegue, inclusive com a política de
ampliação da área de plantio da cana-de-açúcar.
A
exploração racional e sustentável dos recursos hídricos subterrâneos requer que
sejam realizadas, antes do uso real desses aquíferos, simulações que possam nos
indicar o comportamento dos aquíferos quando submetidos aos vários tipos de
bombeamento e recarga reais. Tal exploração assume vital importância
especialmente em regiões apresentam um desequilíbrio entre a oferta e a demanda
de água devido a pluviosidade irregular e/ou altas taxas de evaporação.
Uma das
medidas tomadas historicamente pelo governo federal e governos estaduais no Nordeste
tem sido a construção de reservatórios superficiais (açudes) sem nunca ter
havido um questionamento importante sobre a eficiência deste tipo de
armazenamento de água tendo em vista as perdas por evaporação. Tais perdas
afetam não só a quantidade de água disponível como também a qualidade desta
água, podendo fazer com que os parâmetros de qualidade desta água
(especialmente a salinidade) atinja valores intoleráveis para o consumo humano.
A principal vantagem é que a evaporação nos aquíferos é praticamente nula. Tal
vantagem se reflete não só na conservação de uma quantidade garantida de água
para os períodos de estiagem, mas também na manutenção da qualidade desta
reserva, visto que não havendo evaporação considerável, os parâmetros de
qualidade de água subterrânea tendem a se manter constantes, ou, pelo menos não
tendem a não variarem rapidamente.
Hidrologia subterrânea aplicada a proteção
de poço.
Os aquíferos, por sua natureza, são naturalmente mais
protegidos quanto à contaminação do que as águas superficiais. Por outro lado,
quando se observam anomalias provocadas pela ação do homem como ilustrado na figura
a seguir, muitas vezes o dano ambiental pode ser de grande proporção e com
elevados custos econômicos e sociais para sua recuperação, quando possível.
Embora não se constitua em causa primária igual às
principais fontes potenciais de contaminação acima mencionadas, a exploração da
água subterrânea deve, também, observar a proteção dos aquíferos durante a fase
de perfuração e operação dos poços; a delimitação do perímetro de proteção
sanitária no entorno dos poços; o equilíbrio regional do aquífero quanto às
recargas e descargas e as condições e limites estipulados no ato de outorga
emitido pelo poder público. Não se pode considerar que a simples “proteção
conferida pela natureza a um aquífero” seja suficiente para mantê-lo
qualitativamente adequado. Tanto um projeto como uma construção e ainda uma
operação inadequada podem comprometer, não somente a estrutura de produção,
como também o próprio aquífero.
Desta maneira a política de proteção ao meio em que
se localiza o poço tubular profundo deve ser objeto de avaliação constante, não
somente quanto ao manejo do mesmo e dos seus equipamentos associados, mas
também quanto à proteção de seu entorno, observando-se possíveis fontes de
contaminação.
Fontes potenciais de contaminação (Hirata, 2000, seg. Giampá e Gonçales, 2005) |
Neste sentido, uma efetiva
gestão integrada e proteção dos aquíferos compreende:
·
A confecção
e atualização de mapas de vulnerabilidade de aquíferos, com identificação das
fontes poluidoras potenciais, integrados à gestão de uso e ocupação do solo.
·
A inserção
das águas subterrâneas nas políticas federal e estaduais de recursos hídricos.
·
O
estabelecimento de legislação de proteção das águas subterrâneas e inserção na
gestão integrada dos recursos hídricos.
·
A educação
ambiental voltada para a proteção das águas subterrâneas.
·
O
estabelecimento de perímetros de proteção, normas construtivas para poços
tubulares profundos e fiscalização da construção e operação dos mesmos.
·
O
monitoramento da qualidade e da quantidade das águas subterrâneas.
·
O
acompanhamento das áreas contaminadas e o cadastramento de fontes poluidoras.
·
A
remediação[2]
(processo de despoluição e minimização dos impactos negativos) das áreas
contaminadas.
Texto obtido a partir de:
GIAMPÁ,
Carlos Eduardo Quaglia e GONÇALES, Valter Galdiano. Orientações para utilização
de água subterrânea no Estado de São Paulo. São Paulo : ABAS, 2005.
CASTRO,
Marco Aurélio Holanda; FERREIRA FILHO, Walter Martins; MOBUS, Gilberto &
GOMES, Luciano Álvaro Maia. Obtenção de parâmetros hidrogeológicos de um
aquífero aluvional no semiárido . 1 st Joint World Congress on Groundwater.
2000, Fortaleza. Anais do 1st Joint World Congress on Groundwater. 2000.
v.1. p.1-18.
CLEARY,
Robert W. Águas subterrâneas. Obtido em: http://www.clean.com.br/cleary.pdf. Acesso em: 21/1/2018.
FEITOSA,
Fernando A. C. e FILHO, João Manoel (orgs.). Hidrogeologia: conceitos e
aplicações, 2ª ed. Fortaleza : CPRM/REFO, LABHID/UFPE, 2000.
VASCONCELOS,
Flávio de Morais. Avaliação da qualidade da água. 1ª ed., Belo Horizonte :
SMEA, 2009.
[1] Especiação química
refere-se a
distribuição das diferentes espécies de um dado elemento químico numa amostra,
considerando as espécies complexadas e não complexadas e a distinção entre os
diferentes estados de oxidação.
[2]
A expressão
“remediação de áreas contaminadas” compreende a recuperação do subsolo e das
águas subterrâneas contaminados ou poluídos. Pode significar tanto a limpeza
total (clean up)
da área como a diminuição do impacto da contaminação a limites aceitáveis.
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