segunda-feira, 28 de julho de 2014

O São Francisco já é um rio intermitente


Roberto Malvezzi (Gogó)

Embora não tenha cortado totalmente seu fluxo de água, o São Francisco já é praticamente um rio intermitente.
A atual defluência – saída de água rio abaixo - da represa de Três Marias, em Minas Gerais, é de 150 m3 por segundo (sic!). Não se espantem, é essa mijada de gato. Portanto, um fiapo de água para o que já foi o grande Rio São Francisco (CBHSF).
Essa realidade é visível a olho nu em municípios como Pirapora. Até a extração de água para abastecimento humano das cidades ribeirinhas já está comprometida. Se formos fala em navegação, pesca, etc., é melhor procurar nas fotografias.
A cidade de Xique-Xique, no médio São Francisco, se abastece de um braço do Velho Chico. Em 40 dias – se o rio não recuperar volume – terá seu abastecimento cortado. A calha central está há mais de trinta quilômetros da cidade. Portanto, Xique-Xique vai conhecer o que é um rio intermitente antes das demais cidades.
Abaixo, em Sobradinho, a defluência está em 1.100 metros cúbicos por segundo. As maiores balsas de transporte de passageiros entre Juazeiro e Petrolina estão encostadas no porto. Não há profundidade para sua navegação.
Gostaria de saber onde andam os políticos, os técnicos, o pessoal do governo que projetou a Transposição e nos diziam com arrogância em todos os debates que a defluência em Sobradinho era - com absoluta segurança - de 1800 metros cúbicos por segundo, portanto, a extração de água para a Transposição seria absolutamente insignificante. Onde será que eles estão?
Em terceiro, abaixo de Xingó, no Baixo São Francisco, a defluência também continua com 1.100 metros cúbicos por segundo, comprometendo até a produção de água para consumo humano e para a bacia leiteira de Alagoas. Sergipanos e alagoanos são os que pagam a conta de toda degradação e irresponsabilidade de quem destrói o São Francisco. Na foz, o mar já adentrou o rio em cerca de 50 quilômetros.
Hoje ainda se fala na Transposição, ela continua na mídia, por muitos considerada ainda como a redenção do Semiárido. Vamos respeitar a ignorância dessa afirmação, afinal o Nordeste e o Semiárido continuam desconhecidos para 90% dos brasileiros, mas vale lembrar que 40% do Semiárido brasileiro estão em território baiano, portanto, longe dos eixos da Transposição.
Quantos ainda falam da Revitalização? Alguém tem alguma notícia?
O São Francisco continua em processo de extinção rápida e fatal. Mesmo assim fala-se em projetos de 100 mil hectares de cana irrigada em Pernambuco, 800 mil hectares de cana irrigada na Bahia, Transposição para outros estados, assim por diante.
Certamente voltará a chover, o rio vai recuperar volume, mas, as secas serão cada vez maiores e mais constantes. A NASA, anos atrás, projetava que o São Francisco seria um rio intermitente em 2060. Realizamos a façanha de antecipar a projeção em mais de 40 anos. 

Texto de: Articulação Popular São Francisco Vivo

terça-feira, 22 de julho de 2014

Vai ter água para todo mundo?

Em 2014, o Estado de São Paulo entrou na maior crise hídrica de sua história. Com sucessivos recordes negativos desde que foram iniciadas suas medições, o Sistema Cantareira, responsável por 45% do abastecimento de água da maior região metropolitana da federação, atingiu suas maiores baixas justamente no verão, época em que mais deveria chover.
O paradoxo climático serviu de justificativa para as autoridades, que lamentaram a falta de chuvas e buscaram soluções apressadas para evitar o tão impopular racionamento. O imediatismo, no entanto, foi sentido pela população. Alguns bairros da cidade já sofrem com frequentes cortes d’água e, apesar do resgate do chamado volume morto, que elevou o nível do Cantareira em 18,5 pontos percentuais em maio, especialistas consideram questão de tempo até que se consuma a última gota do sistema. Ao contrário do tempo seco – atípico para esta época do ano – a crise de abastecimento de água já estava há anos anunciada.
Quando projetado na década de 1960, o Sistema Cantareira previu o abastecimento de água à Grande São Paulo até os anos 2000. Na outorga de 2004, documento assinado pela Sabesp (Companhia de Saneamento do Estado) e pelo Consórcio PCJ (Consórcio das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí), foi acordado que a companhia procuraria formas de reduzir sua dependência do sistema. Em outras palavras, o tempo seco apenas antecipou um problema que, cedo ou tarde, chegaria às torneiras e chuveiros dos paulistas.
Feito o retrospecto histórico, é necessário entender o complexo ciclo da água em uma região violentamente urbanizada. Não o ciclo natural, que todos aprendem nas escolas, mas o ciclo social, que envolve desigualdade, poluição, consumo, desperdício, grandes obras e desapropriações. O projeto 2000 e água, nome que faz referência ao colapso hídrico prenunciado para o novo milênio, propõe-se a contar a inquietante história de pessoas que vivem ou viveram a água em diferentes fases deste processo.
Acesse aqui a reportagem hipermídia “2000 e água”, sobre a crise hídrica de 2014 em São Paulo. O especial conta com vídeos, fotos, textos, entrevistas, infográficos e um mini-documentário. Confira!
Matéria original - 2000 e água
Fonte: Envolverde | 21/7/2014 - 12:01


quarta-feira, 16 de julho de 2014

Crise de água em SP: outro sistema entra em colapso

Salvo uma reportagem ou outra, pouco tem sido dito sobre o “segundo front da seca” que ameaça São Paulo.
O Sistema Alto Tietê está secando cada vez mais rápido.
O sistema Alto Tietê, que também abastece a região metropolitana de São Paulo, está reduzido a 24,3% da capacidade. O Governo Estadual insiste em evitar racionamento e a mídia mantém inacreditável silêncio — mas a imagem é chocante.
O segundo maior complexo de reservatórios destinados ao abastecimento da Grande SP, que está servindo como “complemento” para áreas antes conectadas ao Sistema Cantareira, para reduzir a retirada de água na situação de emergência em que este se encontra, não está suportando nem o acréscimo inicial feito há meses e, muito menos, as novas sangrias feitas a partir do novo agravamento da crise.
O Tietê representa metade da produção do Cantareira e leva 15 m³/s à estação de Taiaçupeba.
A queda no sistema passou de 0,1% ( meio bilhão de litros) por dia para 0,2% e, nos últimos dias, já bateu em 0,3%, ou 1,5 bilhão de litros a menos, diariamente.
Restam 24,3% dos reservatórios, ou cerca de 100 bilhões de litros.
O estado da represa de Jundiaí é este que você vê aí na foto.
E a situação é o que descreve a repórter Sabrina Pacca, num relato do qual transcrevo um trecho de poucos dias atrás, publicado há dias:
“É desolador o cenário das cinco barragens que compõem o Sistema Produtor Alto Tietê (Spat). Uma imensidão de área, antes alagada, hoje vazia. A sensação, em alguns pontos, é de se observar um pântano. Em outros, de caatinga. Os peixes desapareceram, para desgosto dos pescadores. Moradores já se veem podendo usar, a pé ou a cavalo, antigas estradas que estavam debaixo d´água há mais de 20 anos e que, com a estiagem, reapareceram, a exemplo da barragem do Rio Jundiaí, onde a realidade é a mais impressionante delas.
Pela terceira vez, nesse semestre, a reportagem de “O Diário”percorreu as cinco represas do Spat. Elas nunca estiveram tão secas e as comunidades que vivem no entorno nunca estiveram tão assustadas. Parece que o temor pela falta de água nas torneiras tomou conta daquelas pessoas, mais próximas a essas paisagens angustiantes.
“Todo mundo deveria visitar aqui. A Prefeitura deveria fazer excursões. Só vendo o que a gente vê, todos os dias, para que se tome consciência de que a água vai acabar mesmo e que vamos sofrer demais. É o sinal do fim dos tempos e está na Bíblia. Não tem jeito, a gente tem que economizar, pelo amor de Deus”, rogou o borracheiro, Elias Souza Alves, de 55 anos, que trabalha às margens da represa de Taiaçupeba, em Jundiapeba, que tem uma área de inundação de 19,36 km². (…)”
Como se trata da água que vai abastecer uma “pequena cidade”, São Paulo, e pouquíssima gente, apenas 4,5 milhões de pessoas, a gente tem de recorrer ao bravo Diário de Mogi, onde trabalha a repórter, e a seu fotógrafo Edson Martins, para ver e entender o que está se passando.

Não é assunto para um Jornal Nacional, não é?